[005] Análise Potencial: apoio na descoberta das aptidões ao trabalho

Um dos grandes desafios da inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho é a conexão entre escola e empregador. Para que isso aconteça, no entanto, é necessário ofertar boas possibilidades de orientação e consequente formação profissional para os jovens.

Dentro do programa KAoA-Star, o primeiro passo é a realização da “Análise Potencial” com estudantes no antepenúltimo ano escolar. Adolescentes a partir dos 14 anos têm a oportunidade de participar do processo, que tem o objetivo de descobrir seus pontos fortes e fracos, suas habilidades e dificuldades, bem como seus interesses pessoais. O resultado não é encarado como limitante, mas sim como guia para tomada de decisões.

Entre os dias 21 e 22 de janeiro, estive na Escola Raoul Wallenberg, em Dorsten, acompanhando a aplicação da análise potencial em um grupo de estudantes com deficiência de fala e comunicação, classificação definida na Alemanha como um tipo de deficiência específica. Nesse município, parte da região administrativa de Recklinghausen, a instituição contratada pelo Estado através da LWL para a realização da atividade é a Diakonie.

Às oito e meia da manhã, os assistentes de integração da Diakonie Christopher Wensig e Jörg Akkermann iniciaram a preparação da sala distribuindo sobre as carteiras os materiais necessários: papéis, lápis, canetas, aquarelas, porcas, parafusos, pastas, réguas e laptops. Meia hora depois, chegaram os estudantes: três garotos e uma garota, todos na faixa dos 14 a 15 anos de idade.

Com grande habilidade para lidar com adolescentes, os dois assistentes deram as boas-vindas, quebraram o gelo, se apresentaram, me apresentaram e ouviram atentamente cada um dos jovens se apresentar. Na sequência, explicaram do que se trata a análise potencial e que seu objetivo não é ser uma competição ou uma prova de fogo. “Esta é uma oportunidade para vocês conhecerem melhor suas habilidades, experimentando atividades diferentes”, disse Wensig. Antes de iniciar o teste em si, cada um pôde experimentar as atividades rapidamente para decidirem se estavam confortáveis ou não para fazê-las.

Das 9 da manhã às 2 da tarde no primeiro dia, eles pintaram figuras geométricas tendo que respeitar as linhas limite, apertaram e desapertaram porcas e parafusos em uma sequência específica, organizaram simulacros de pastas de escritório, completaram desenhos de figuras e formas simetricamente, trabalharam no laptop com gráficos de acordo com os eixos X e Y, simularam ligações telefônicas e responderam a um questionário digital.

O segundo dia foi dedicado a trabalhos manuais: lixar um pedaço de madeirite quadrado para formar a figura de um peixe, bem como dobrar várias vezes um arame grosso com auxílio de um martelo e um torno de bancada. Nesse dia, fui convidado a fazer as atividades junto aos alunos. “São tarefas que parecem simples, mas que têm a capacidade de nos apontar onde temos mais ou menos aptidão”, destacou Akkermann.

Durante todo o tempo, os assistentes de integração tomavam nota do progresso de cada um e tiravam dúvidas quando necessário. Foram feitos dois intervalos de vinte minutos. Ao final dos dois dias, os alunos haviam entregado todas as atividades concluídas.

Com os resultados em mãos, Wensig e Akkermann utilizaram o sistema Hamet 2 para avaliar o desempenho dos jovens. Sigla em alemão para “Módulo de orientação manual para avaliação e promoção de competências profissionais”, o Hamet 2 é um processo que conta com materiais e atividades específicas, todas elas com protocolos para determinação da proficiência ou aptidão da pessoa avaliada em habilidades manuais, intelectuais e sociais. É indicado para pessoas com menor grau de comprometimento físico e mental. Além dele, há o Hamet E, voltado para pessoas com deficiências mais severas.

Os indicadores colhidos nas atividades são inseridos em um programa de computador que faz um cruzamento de dados e parâmetros tanto em relação à qualidade do trabalho quanto ao tempo necessário para concluir determinada tarefa. Esse resultado é complementado com a avaliação dos assistentes de integração que acompanharam o teste.

É gerado então um relatório final que será compartilhado em uma reunião denominada “Seminário de Orientação Profissional”. Nessa ocasião, estão presentes o próprio estudante, seus pais ou responsáveis legais, professores, o coordenador ou a coordenadora local do Serviço Especializado de Integração, e os assistentes de integração responsáveis pela condução da análise potencial.

Com as conclusões tiradas a partir da participação na análise potencial, as percepções do dia a dia escolar dos professores, a percepção dos pais e, sobretudo a opinião dos próprios jovens, a equipe consegue apontar sugestões e orientações que ajudam na determinação futura de qual trajetória profissional seguir. Isso permite a escolha de um determinado curso técnico ou estágios probatórios em determinadas áreas no mercado de trabalho geral, ou então a opção por trabalhar em uma oficina para pessoas com deficiência. Essa última alternativa é o caminho encontrado pela Alemanha para possibilitar às pessoas com deficiência severa a realização de um trabalho, que aliado aos cuidados médicos melhora a qualidade de vida e permite uma maior socialização.

Fotos: Arquivo Pessoal © Marco Túlio Silva

Deixe um comentário

Site no WordPress.com.

EM CIMA ↑

Design a site like this with WordPress.com
Iniciar